terça-feira, 10 de julho de 2012

A CIÊNCIA CRIA AS SUPERSTIÇÕES

De uns tempos para cá, alguns jornalistas do Japão vêm tachando as religiões novas de supersticiosas e trapaceiras. Dizem eles que, após a Segunda Guerra Mundial, o povo japonês passou a viver uma situação muito confusa, e que, aproveitando-se disso, começaram a aparecer religiões trapaceiras e supersticiosas, confundindo ainda mais as pessoas. Assim eles se expressam a respeito, mas não tentam descobrir as causas do fato. Acham que as religiões novas são todas iguais e formulam definições baseadas apenas no seu entendimento pessoal e nos boatos.

Não podemos deixar de nos sentir decepcionados com a superficialidade do julgamento desses jornalistas, e achamos que é responsabilidade nossa orientá-los e ensiná-los a pensar de modo correto. Entretanto, não queremos negar totalmente sua atitude, pois, como a base de seu raciocínio é materialista, é natural que eles definam como superstição tudo aquilo que não vêem. Se estivéssemos em seu lugar, obviamente agiríamos da mesma forma. Negando-se, porém, a existência do invisível, como ficaria o mundo? Talvez o materialismo o levasse a uma situação calamitosa. As relações de amizade e amor entre as pessoas, inclusive o relacionamento entre pais e filhos ou entre irmãos, passariam a ser meros cálculos de vantagens e desvantagens. A sociedade seria fria como um cárcere de pedra, e nem mesmo os materialistas poderiam suportá-la. Vemos, pois, que o modo de pensar dos jornalistas a que nos referimos encontra-se entre duas posições, sem definição precisa.

Analisemos, a seguir, a situação real do mundo em que vivemos.

É considerável o número de pessoas supersticiosas entre os intelectuais. Há tempos, li uma estatística dos diferentes tipos de superstições que existem em cada país; a Alemanha, considerada uma das nações mais avançadas no ensino das ciências, acusava o maior número. Desse modo, notamos que as superstições crescem proporcionalmente ao progresso científico. Eis como interpretamos o fato:

Durante longo tempo, recebemos, nas escolas, um ensino materialista cuja base é a lógica; entretanto, quando terminamos os estudos e nos integramos na sociedade, encontramos uma realidade diferente, que está em desacordo com a lógica. Em consequência, a maioria das pessoas começa a ter dúvidas, porque, quanto mais age em conformidade com ela, piores são os resultados. Os mais inteligentes pensam, então, em estudar uma nova sociologia que esteja de acordo com a realidade social em que vivem. Como não existe esse tipo de curso, começam a estudar sozinhos. Se forem rápidos, conseguirão atingir seu objetivo em pouco tempo; alguns, todavia, levam muitos anos. Trata-se, em verdade, de um segundo aprendizado, completamente diferente do primeiro, que custou tanto sacrifício. Contudo, é um aprendizado real, seguro, e pode ser aplicado no dia-a-dia. Os mais bem dotados, tendo enfrentado as amarguras e doçuras da vida, adquirem larga experiência, tornando-se "doutores" nessa sociologia. A maioria deles, quando se acham a um passo disso, já estão velhos, sendo que muitos acabam a vida como pessoas comuns. Existem, no entanto, aqueles que sobressaem, como por exemplo o Sr. Yoshida, primeiro-ministro do Japão, o qual se destacou pela sua superioridade e habilidade política.

Com essa explicação, penso que entenderam a causa das superstições. Em resumo, se falhamos quando tentamos aplicar os conhecimentos adquiridos na escola - nos quais acreditávamos piamente - é fatal cairmos na dúvida. Nesse momento, torna-se muito fácil as pessoas ingressarem em religiões supersticiosas e trapaceiras. Podemos dizer, entretanto, que nenhuma das religiões existentes realmente esclarece dúvidas. Assim, compreendemos que a culpa de tudo cabe ao ensino ministrado nas escolas, o qual está muito distanciado da realidade, e concluímos que, em parte, as superstições são criadas por certo aspecto da Educação contemporânea.

Para finalizar, quero dizer que reconhecemos serem numerosas, atualmente, as religiões supersticiosas e trapaceiras, como dizem os jornalistas, mas achamos errado generalizar, porque, sem dúvida, existem algumas às quais não cabem tais designações. Ora, chamar de superstição aquilo que não o é, também constitui uma espécie de superstição. Nesse sentido, queremos prevenir aos jornalistas que escrevam sobre as religiões supersticiosas e trapaceiras, mas que não definam com esses termos qualquer religião, pois esse procedimento representa um obstáculo para o progresso da cultura.

Meishu Sama em 30 de janeiro de 1950.

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